19/08/2021

Troca mais do que Equivalente

Eu nem sei expressar direito o carinho que sinto por essa história. Faz uns bons meses que a escrevi, e só agora tive a coragem de compartilha-la aqui.
Tenho um sentimento gigante por EdWin. É um dos meus casais favoritos no universo dos animes. Sempre fico boba com as interações entre eles.~
Esta oneshot ficou bem mais longa do que eu previa, mas sinto que consegui expressar os sentimentos do Edward ao longo da obra.
Quanto à capa, confesso que sofri horrores pra fazer. Não foi nada fácil humanizar um desenho pela primeira vez. O Edward, principalmente, foi bem desafiador. Foram tantas sobreposições de imagens e efeitos! Usei o Dylan Sprayberry como base, e acho que ficou bem lindinho (embora eu quisesse que no lugar de uma trança, houvesse um rabo de cavalo ~ meu perfeccionismo não tem limites ಥ_ಥ). Quanto a Winry eu usei uma modelo cujo nome não sei, não fiz grandes modificações.
Enfim, acho que já falei tudo o que queria.
Boa leitura ♡

Fullmetal Alchemist (鋼の錬金術師)
 [Oneshot] 

Sentado e com a testa próxima à janela do trem, Edward admirava o pacífico cenário interiorano que a mesma o exibia de maneira tão saudosa. Em meio ao embalo sonoro dos trilhos da ferrovia e da chaminé, sua mente era tomada por antigas recordações. Momentos aos quais nem mesmo chegara a cogitar que um dia o marcariam tanto e que viriam a ser lembranças nostálgicas e calorosas. Era tudo o que lhe restava: As boas e velhas lembranças de sua infância, quando Alphonse e ele brincavam enérgicos pelo quintal da pequena casa, em meio à risadas quase que sem fim, sem nunca preocupar-se com o amanhã. Admirava um céu tão acolhedor diante de si, que sorria com ternura. A face de Trisha, sua mãe, lhe veio à mente, fazendo-o fechar os olhos para aproveitar daquele sentimento, imaginando estar abraçado a ela, juntamente a seu pai e seu irmão mais novo. Como uma família completa novamente. 

Completo. 

Aquela palavra o fazia recordar de sua própria deficiência. O pecado que cometera ao tentar ressuscitar a mãe resultara na perda de sua perna esquerda e na perda total do corpo físico de seu irmão, o que não havia sido um preço barato a se pagar, mediante ao fato de que nem mesmo a mãe puderem rever. Logo em seguida, no mais agonizante desespero, precisara negociar novamente pelas normas da alquimia, cedendo desta vez seu braço direito, de modo a preservar a vida de seu querido irmão. Seu amor por Alphonse era tanto que sabia que a perda de um braço não significaria muito, se com isso pudesse preservar sua existência. Estaria disposto a ir até o extremo de dar sua própria vida, se com isso seu irmão pudesse viver. No entanto, a decepção e culpa que tivera ao ver que o transmutara para uma armadura fria de metal, incapaz de dormir ou comer, também fora um dos maiores castigos com os quais teve que lidar ao longo daqueles difíceis anos.

Aquelas não eram boas lembranças. Felizmente eram uma página virada em suas vidas.

O rapaz abriu os olhos e virou o rosto para o lado, vendo um Alphonse que dormia despreocupadamente sobre a cadeira ao seu lado.

Seu irmão havia finalmente recuperado seu corpo humano, mas ainda assim, a realidade às vezes era surreal demais para si. Pensar que eles finalmente haviam conseguido reconquistar aquilo que lhes foi tomado naquele maldito dia, era verdadeiramente difícil de se acreditar. Era quase como estar vivendo na fantasia de um sonho. Um sonho ao qual jamais gostaria de acordar.

Edward desceu o olhar em direção ao braço direito. Carne e osso. Às vezes ele também o olhava e lembrava-se da prótese mecânica que fizera uso durante aqueles anos. Embora tenha sido de grande ajuda durante sua trajetória, jamais um braço artificial se compararia a um real, e a constatação de que conseguira recuperá-lo, às vezes também o deixava cético quanto à realidade.

O que ele tinha absoluta certeza quanto à realidade, era que naquele dia, Alphonse e ele estavam finalmente retornando ao lar. Após um período de dois anos e seis meses de amadurecimento e espera longe de sua cidade natal, ambos regressavam como homens adultos.

Ah, ao constatar aquilo a ansiedade lambeu-lhe a espinha. A face meiga e sorridente de Winry apareceu em sua mente, tal como lembrava-se dela na última vez em que haviam se visto.

Eles haviam feito uma promessa entre si. Uma troca equivalente, tal como ele mesmo decidira nomear o acordo que propusera. Ele a daria metade de sua vida e ela o daria a metade da vida dela. Um pacto que selaram antes de sua viagem e que seria cumprido quando voltasse de sua longa jornada de aprendizado.

E em meio aos risos ele havia se despedido dela naquele dia e embarcado no trem, aliviado em saber da reciprocidade de sentimentos que havia entre ambos.

Sim, o que havia entre eles era amor. Ele sabia disso. 

 🔧同等以上の交換

Segurando a bagagem desleixadamente apenas com uma das mãos, Edward observava as ondulantes colinas ao sul de Resembool, bem como os campos verdes ao leste. Fechou os olhos e respirou profundamente, deleitando-se com as memórias que tinha daquele lugar. Finalmente haviam chegado em casa.

— Estamos de volta, Al. — sorriu com orgulho em direção ao irmão.

— Sim, estamos de volta ao nosso lar. — Alphonse sorriu ao dizer, compartilhando do mesmo sentimento que o mais velho.

Sentiam falta daquela calmaria e do frescor acolhedor que aquele lugar lhes transmitia. Era como voltar no tempo. Reviver a própria infância.

Pouco tempo depois de saírem da estação ferroviária, Edward e Alphonse foram recepcionados por Pinako, que já os aguardava com seu cachimbo no canto da boca, não muito diferente do que se lembravam há anos atrás. Junto a ela havia um alegre alvoroço de conhecidos e amigos que estavam ali para recepcioná-los e lhes desejar as boas vindas.

Fora uma recepção muito calorosa e divertida, com direito a cartazes de boas vindas e até mesmo rápidas chuvinhas de confetes coloridos. Aquele tipo de coisa não era muito o estilo de Edward, — embora fosse o de Alphonse — mas mesmo assim não conseguiu conter a alegria ao ver que eram tão queridos. E surpreendeu-se ainda mais quando reparou que, no meio daquelas pessoas, também se encontravam sua respeitada mestre Izumi Curtis e alguns de seus amigos do exército.

Roy Mustang, Riza Hawkeye, Alex Armstrong, Vato Falman, Jean Havoc, Kain Fuery, Maria Ross, Denny Brosh, Heymans Breda e até mesmo Sheska e o cachorrinho de Riza, Black Hayate, estava ali. Todos com largos e acolhedores sorrisos de boas vindas em suas direções.

— Yo, há quanto tempo, Hagane no e Alphonse! — o líder de Amestris, Roy, acenou em suas direções. — Já tava mais do que na hora, hein? — Sorriu debochado, como de costume.

O homem não mudara muito em todo aquele tempo, exceto que agora mantinha um, quase imperceptível, bigode acima da boca e possuía um ar levemente mais vaidoso e arrogante do que Edward se lembrava, visto que em seu uniforme a coleção de distintivos e medalhas havia aumentado significativamente.

Ao vê-lo em sua frente, o loiro não disfarçou uma risadinha um tanto desaforada e envaidecida. Estava em festa. Em seu íntimo, uma tempestade de fogos multicoloridos, com direito até a corais e orquestras gloriosas em sua homenagem, estava ocorrendo. Havia finalmente ultrapassado a altura do alquimistinha das chamas, e o melhor era que nem mesmo estava usando de qualquer artifício para parecer maior! Aqueles benditos três centímetros estavam fazendo diferença! Faziam-no se sentir num pedestal, com Mustang inclinado aos seus pés.

— Hihihihihihi, — colocou a mão sobre a boca propositalmente, tentando sufocar o riso maldoso. — parece que o jogo virou, hein, Mus-tan-g!

Com todo o seu atrevimento, Edward o importunava com pesados tapinhas acima da cabeça, se vangloriando ao comparar a pequena diferença de altura do homem com a dele, fazendo as expressões mais caricatas e zombeteiras possíveis.

— Ora, seu… — com uma veia saltando na testa, o homem fechou os olhos e apertou o punho furiosamente, sendo contido pela tenente Hawkeye, que parecia divertir-se com toda a situação.

— Bem-vindos de volta, meninos. — Riza, que estava ao lado de Roy, saudou-os cortês e serena, juntamente com seu cachorrinho nos braços, que deu um latido amigável.

A moça também não mudara tão drasticamente, mas aos perspicazes olhos de Edward, notara que havia ganho um singelo brilho no olhar, diferente de antes.

E antes que os irmãos pudessem responder algo, uma voz se sobressaltou:

— EDWARD ELRIC E ALPHONSE-KUN!! 

Aquela voz fizera com que um forte arrepio percorresse por seus corpos. Engoliram em seco e logo depois um grito desesperado de Edward foi ecoado, acompanhado também de algumas lágrimas temerosas.

O Armstrong os puxou para si e os abraçou sem conter a própria força, espremendo-os fortemente contra seu largo e suado peitoral nu e ignorando os inúmeros protestos por parte deles.

— ESTOU TÃO ORGULHOSO EM VÊ-LOS DE VOLTA!!

Os rapazes, agora livres e capazes de respirar, não conseguiram conter as caras de assombrados ao verem as poses espalhafatosas que o latagão fazia com os braços, enquanto cascatas de lágrimas escorriam pelos olhos do mesmo. Alex, apesar da aparência grande e musculosa, tinha uma personalidade verdadeiramente bondosa. Conseguiam até mesmo ver uma aura de faíscas luminosas em volta de seu rosto, enquanto ouviam mais um de seus longos discursos sobre ética e honra masculina.

— Também sentimos falta, Armstrong-san. — Alphonse respondeu, rindo sem jeito enquanto seu fragilizado irmão jazia de joelhos prostrados contra o chão, ainda se recuperando do abraço da morte. 

Então quem tomou a vez de falar foi Izumi, que deu um passo à frente e esboçou um sorriso afável:

— Meninos… — ela iniciou com tranquilidade e misteriosamente fechou os olhos por alguns segundos, até abri-los novamente e revelar uma aura escura e tenebrosa ao seu redor, capaz de amedrontar qualquer marmanjo ali presente.

Edward, que nem mesmo havia arranjado forças para se erguer, sentiu que sua alma estava se esvaindo vagarosamente em direção aos céus, só com a excruciante energia que podia sentir vindo do esguio corpo de sua mestre. Uma coisa era certa: As lágrimas que Alex o fizera derramar, nada se comparavam com as que em breve derramaria ao sentir todo o peso da fúria de sua mestre.

Al…

Nii-san…

Ambos se entreolharam de maneira semelhante a uma sofrida despedida, e esboçaram um sorriso desafortunado. Ao menos morreriam juntos como os bons e unidos irmãos que eram.

— POR QUE DEMORARAM TANTO? QUEREM ME MATAR DE PREOCUPAÇÃO, SEUS PIVETES INGRATOS? SE VÃO PASSAR TANTO TEMPO VADIANDO PELO MUNDO AFORA, AO MENOS ESCREVAM PRA SABER QUE ESTÃO VIVOS! POR ACASO É DIFÍCIL ESCREVER UMA CARTA DECENTE?

A mulher estava uma fera e só não concretizava seu desejo de dar-lhes uma boa lição ali mesmo, pois seu robusto marido a estava impedindo, embora com evidente dificuldade.

Tudo o quanto Izumi dizia era a mais pura verdade, eles sabiam. Principalmente quanto ao que dissera sobre a comunicação, visto que raramente davam sinais de vida através de cartas, e quando davam eram por meio de palavras escassas e não muito significativas, especialmente o mais velho, que limitava-se a escrever, no máximo, três linhas — talvez quatro, se contasse com a assinatura no fim da folha.

Não era um insensível desgraçado, coração de aço ou coisa do gênero. A questão era que simplesmente não gostava de contar coisas por intermédio de cartas — e nem por telefonemas, inclusive. Achava que as coisas que presenciava, as pessoas que conhecia, as terras pelas quais passava e até mesmo os ocorridos e sufocos do dia a dia, eram incríveis demais para simplesmente resumi-los numa folha de papel e enviá-los a seus amigos. Queria contar-lhes tudo devidamente, olhando-os nos olhos e vendo suas mais variadas reações de acordo com o evento ao qual narraria. Fizera questão de todas as noites, antes de dormir, anotar tudo detalhadamente em seu diário pessoal, de modo que quando reencontrasse a todos, não omitisse nenhum precioso detalhe de sua jornada. Já que eles não haviam estado lá, queria fazê-los sentir-se como ele se sentiu, de modo que se considerassem incluídos em suas aventuras e, de algum modo, sentissem que todo aquele tempo em que esteve afastado não afetara seu relacionamento com eles.

Para infelicidade de seu irmão e de si próprio, Izumi não entendera bem suas boas intenções e, ao que revelou, preocupou-se todo aquele tempo com o bem estar de ambos.

A mulher estava mais do que decidida a puni-los, mesmo que seu marido não colaborasse consigo. Ainda aos berros conseguiu desvencilhar-se de Sig, que recuou alguns passos para trás em decorrência da força que ela exercera. Com pisadas brutas tomou rumo em direção aos irmãos, que naquele momento se encontravam abraçados e encolhidos no chão tal como dois coelhinhos assustados, e fechou a mão em um punho ameaçador.

Diante daquilo, tudo o que Edward e Alphonse puderam fazer foi engolir em seco à espera de suas respectivas sentenças. A horripilante e distorcida sombra de Izumi pairava pesadamente sobre ambos, como uma prévia do que estava por vir. Não havia escapatória. Ela os faria se arrepender amargamente de todos os seus pecados.

Quando a mulher já estava próxima o suficiente para dar-lhes uma surra, tudo o que puderam fazer foi fechar os olhos e aguardar. Não gostariam de ter que assistir o que se sucederia.

Estranhamente, tudo o que haviam sido capazes de sentir foi um soco acima de suas cabeças. Não que não houvesse doído à beça, mas aquela não era a questão. Tratava-se de Izumi Curtis, sua rigorosa mestre, e se bem a conheciam, com toda a raiva que ela havia acumulado, ela teria lhes dado, no mínimo, um pontapé que os faria sair dali voando.

Surpresos com o ocorrido, abriram os olhos. Diante deles, tudo o que havia era uma simples mulher; não mais aquela apavorante de segundos atrás. Era apenas Izumi.

Ainda sem entender o que estava havendo, Edward desceu o olhar em direção aos punhos fechados que ela ainda mantinha, perplexo ao ver o quão trêmulos estavam.

— Querida, se acalme. — Sig falou manso, ressurgindo por trás dela e tocando-lhe o ombro. — Você mesma pode ver que eles estão bem. — indicou com a mão os rapazes em sua frente.

— Eles… — ela se embaralhou com as palavras, ainda tentando contextualizar o que sentia. — Esses moleques passam tanto tempo fora e depois retornam desse jeito.


Izumi tentava, com grande esforço, reprimir as lágrimas que nublavam seus olhos. Sabia que estava sendo sentimental demais, mas não conseguia evitar. Estava diante a Edward e Alphonse; dois homens adultos e independentes, não mais as crianças travessas que um dia cuidou e ensinou. A verdade era que mal conseguia conter todo orgulho em seu peito ao constatar o quanto haviam crescido desde então — principalmente o Elric mais velho, que não crescera somente em maturidade como também em estatura.
Com o sol refletindo em si, a mulher então foi capaz de erguer a face e encará-los. Reuniu forças e presenteou-os com um sorriso grande, acompanhado do brilho lacrimal que pairava sobre seus olhos. 

— Que bom que vocês estão bem. — disse maternalmente, escondendo o choro no peitoral de seu amado marido.

Aquilo os havia pego desprevenidos. Não haviam previsto verem-na chorando de emoção apenas por revê-los. Era um sentimento caloroso e reconfortante que os fazia sorrir.

— Sensei… — Edward falou, erguendo-se do chão juntamente ao seu irmão, e indo em direção a ela. — Nos perdoe por toda a preocupação que te fizemos passar. — tocou-lhe as costas de maneira reconfortante. — Nunca imaginamos que te deixaríamos assim. Somos verdadeiros idiotas.

— Nós estamos bem, sensei. — Alphonse a consolou. — Não fica assim, por favor.

Ela então afastou-se dos braços de seu marido e os encarou, ainda sem conseguir evitar as lágrimas.

Meus meninos… Que bom que voltaram.

Izumi então os puxou para si e os abraçou emocionada.

Ao ser acolhido de tal modo, Edward se sentiu do exato modo que se sentira há anos atrás, quando ele e seu irmão haviam sido abraçados por ela, após a reencontrarem e ela lhes revelar que, assim como eles, também havia quebrado o tabu e visto a Verdade. Na época Izumi sentira-se culpada por não ter lhes revelado seu passado, acreditando que por influência de seus ensinamentos, eles haviam resolvido também ressuscitar alguém.

Com aquelas lembranças ressurgindo, ele envolveu seus braços ao redor dela, assim como seu irmão, e permaneceu de tal modo, embalado pelo calor dela, num pedido de desculpas silencioso.

A vida havia arrancado muitas coisas deles, mas ainda assim, também compreendiam que em igual proporção, também haviam sido presenteados por ela de diversas formas. Perderam a mãe e sabiam que nunca a teriam de volta; que nunca alguém ocuparia aquele lugar em suas vidas, no entanto, ter Izumi ali, abraçada com eles, os fazia sentir uma ternura tão grande quanto a que sua querida mãe um dia os havia direcionado.

Eram verdadeiramente amados.

— Olha só o que vocês me fizeram, seus pivetes… — Izumi queixou-se com algum humor ao secar as lágrimas, segundos depois de terminarem o longo abraço.

Diante daquele comentário, tudo o que fizeram foi sorrir.

Mesmo com toda a comoção que o reencontro de Izumi com os rapazes havia gerado, as saudações de boas vindas prosseguiram com humor. Kain Fuery, agora exercendo o cargo de subtenente, prestou seus cumprimentos aos irmãos com um sorriso simpático. Maria Ross, agora primeira tenente, os recebeu com seu jeitinho doce e amável de ser. O sargento Denny Brosh, Heymans Breda e outros ali presentes também se manifestaram um a um.

— Senti saudades, rapazes. — Sheska sorriu meiga, encolhendo os olhos.

A moça havia ficado sutilmente diferente, visto que havia trocado seus óculos antigos por uns de armação prateada e redonda, dando-lhe um ar mais delicado.

— Sheska! — os irmãos cumprimentaram-na em uníssono, diferenciando-se apenas pelo sufixo san que Alphonse empregou.

A moça havia sido a última a falar. Com isso, os irmãos tomaram fôlego e disseram de forma perfeitamente sincronizada: 

— É MUITO BOM REVER TODOS VOCÊS!!


As conversas que seguiam pareciam não ter fim. Muitas coisas haviam acontecido desde então. No tempo em que os irmãos Elric deixaram Amestris, fortes mudanças ocorreram na vida de seus amigos. A começar por Roy, que naquele momento revelara orgulhosamente estar num relacionamento amoroso com a tenente coronel Hawkeye. — fato este que surpreendera principalmente a Edward, que questionou de imediato o que uma mulher com o porte da Riza viu num “mão de vaca exibido" como o Mustang. Por conta de tão audaciosa pergunta, um pequeno conflito no qual Roy e o ex-alquimista trocavam os mais variados xingamentos, teve início. Nada fora do comum. Depois, quando ambos já haviam sido contidos por Alphonse e Riza, foi revelado que assim como o casal recém citado, Maria Ross e Denny Brosh, seu parceiro de equipe, também estavam namorando. E não somente eles! Todos na verdade revelaram ter algum amor em suas vidas. Até mesmo os tímidos Kain e Sheska enrubesceram ao falar do relacionamento que mantinham juntos. Não seria de se admirar se até mesmo Black Hayate também estivesse saindo com alguma cadelinha.

— May e eu também começamos a namorar. — Alphonse respondeu à pergunta de alguém. — Ela está em Xing mas eu a visito sempre que posso. — coçou a bochecha levemente acanhado.

Ah, era sempre assim. Seu irmão sempre corava quando falava sobre a baixinha chata. Era divertido vê-lo de tal forma, embora ficasse verdadeiramente feliz por ele.

— E você, Hagane no? Arranjou uma mulher corajosa que te ature durante o tempo que passou fora? — Roy atiçou, imediatamente sendo repreendido pela namorada, que deu um tapa em sua nuca. — Ai, Riza!

— Seja mais educado. — ela o censurou.

Para a mulher era absurdo sugerir que Edward tivesse se envolvido romanticamente a sério com alguém durante aquele período de tempo. Lembrava-se bem o suficiente dos olhares que o garoto, agora homem, direcionava a Winry. Aquele olhar apaixonado não mentia, e pelo forte vínculo que sabia haver entre ambos, bem como a honrada personalidade de Edward, jamais permitiriam-no trocá-la por outra mulher.

A tal pergunta fizera o loiro corar. Não sabia ao certo o que responder. Sim, havia feito uma promessa com Winry na qual concordaram dividir suas vidas no futuro, mas ainda assim era difícil externalizar para todos que sim, que ele também tinha alguém. Principalmente quando este alguém não estava ao seu lado para reforçar suas palavras.

Céus, como sentia a falta dela…

— Não precisei sair de Resembool pra encontrar a mulher certa. — a voz saiu um pouco mais baixa do que planejava, embora conseguisse manter-se firme e transmitir sua convicção. — Ela sempre foi minha amiga e esteve aqui, esperando por mim… — sorriu acanhado ao lembrar-se de sua amada. — De qualquer modo, — coçou a garganta, tentando assumir um ar trivial. — ainda preciso falar apropriadamente com ela pra definirmos o que somos no momento. — ele concluiu sem querer entrar em muitos detalhes.

Depois da resposta escassa, Edward sentiu um calafrio sinistro ao ver a energia que as pessoas ali presentes emanavam. Todos eles se entreolharam de maneira cúmplice e um tanto confidente, como se já esperassem por aquilo, adornando sorrisos cheios de presunção e malícia. Entretanto, o que deixara o loiro verdadeiramente desconcertado foram as piadinhas e provocações que pareciam nunca acabar.

— Hummmm… Me pergunto quem deve ser essa mulher que fez ele ficar todo coradinho! — Mustang debochou em alto e bom som, rindo em seguida das caras e bocas que Edward estava fazendo naquele momento.

Pobre Edward! Ainda que sem intenção, denunciara a todos que a moça a quem se referia era a jovem Rockbell. Era mais do que óbvio. Quem mais poderia ser, senão ela? Todos sabiam, mas ainda assim gostavam de importuná-lo.

— Também não faço ideia de quem possa ser ela… — Maria Ross também entrara no jogo, fingindo estar alheia àquela informação. — Será que a conhecemos?

— Possivelmente, Maria. — Denny retrucou com igual expressão.

— Eu acho que sei quem é, hein… — Breda instigou.

— Sabe coisa nenhuma! — Vato contestou em tom de pilhéria.

Eu ouvi dizer que é uma certa mecânica… — Victor, um dos moradores locais e conhecido de infância, atiçou, fazendo com que Edward engolisse em seco.

E assim, a torturante brincadeira prosseguia, com cada um dos ali presentes se fazendo de bobos ou assustando-o com afirmações certeiras a respeito de quem se tratava a “misteriosa” mulher.

Após segundos daquele lenga-lenga infernal, quem entrou na gaiatice foi Havoc que, com um olhar um tanto provocador e astucioso, disse:

Pois eu sei o nome dela. — focou diretamente nos olhos de Edward, desafiador. — Começa com Win e termina com Ry. — sorriu ladino, com o cigarro preso entre seus dentes.

Não era idiota a ponto de não ter reparado que todos ali presentes estavam, até aquele momento, tirando sarro de sua cara. No entanto, não compreendia como eles haviam descoberto. Tivera o cuidado de não citar o nome dela em momento algum. Tinha certeza!

HAVOC, MALDITO, COMO SOUBE QUE EU ESTAVA FALANDO DA WINRY?!!

Descrente consigo mesmo ao ver que se entregara, congelou ali mesmo, diante dos olhares astuciosos e das risadas de seus camaradas.

— Oras, nii-san, se não fosse ela, quem mais seria? — Alphonse disse com muita simplicidade. — Não revelou o nome mas também nem precisava, com todas as informações que deu. Fora que todo mundo sabe que você sempre foi caidinho por ela. — deu de ombros.

— ALPHONSE! — repreendeu o irmão, morto de constrangimento.

— Ah, a juventude é tão linda! — O Armstrong declarava, enxugando as lágrimas de emoção que caíam de seus olhos.

— Eu sempre soube que entre vocês era muito mais além do que amizade. — Riza contou, sorrindo meiga.

— Até você sabia, Riza-san… — Edward soltou um muxoxo, decepcionado consigo mesmo.

— E quem é que não sabia? Vocês nunca souberam disfarçar muito bem. — Izumi declarou com toda a rigidez de um militar.

Eu que o diga. — Pinako se manifestou, dando em seguida uma tragada de seu bom e velho cachimbo. — Desde criança ele vivia seguindo a minha neta pra cima e pra baixo, como um cachorrinho carente.

C-CACHORRINHO? — vociferou incrédulo.

Sentira toda sua dignidade e orgulho serem arremessados na lama sem qualquer piedade. Como gostaria ele de poder se encolher em algum canto recluso, longe de todas aquelas gargalhadas. Oras, era só o que faltava! Aquela velha bruxa não tinha piedade alguma! Desde quando que ele era submisso daquele jeito a Winry? Desesperado, tratou de vasculhar os registros de sua memória e não teve dificuldade em lembrar-se de inúmeros momentos em que, de fato, correra atrás da moça de forma semelhante a um cachorrinho atrás da dona.

Céus, aquilo era verdade! Uma vergonhosa e torturante verdade que nem mesmo ele havia se dado conta até então.

O pior de tudo era saber que seu segredo, na verdade nunca havia, de fato, sido um. Pelo visto o mundo inteiro sabia que Edward Elric latia e abanava o rabo toda vez que via a Rockbell. Que maravilha! Agora viraria motivo de chacota não somente do Mustang e de todo o exército, como também de todo o vilarejo.

— Tsc! — ele enterrou as mãos dentro dos bolsos da calça de sarja preta e encarou a todos ali presentes, possesso.

Ao verem-no, a maioria se calou, enquanto alguns ainda riam.

Eu amo Winry Rockbell sim, e daí? — o ex-alquimista afirmou, um tanto contrariado. — Já que nunca foi segredo mesmo, agora estão sabendo por minha boca.

Com isso, toda a atenção se voltou para ele, criando uma tensão quase que palpável.

Se quiserem eu até repito: — com uma segurança aparentemente inabalável, esboçou um genuíno sorriso de desafio e petulância ante os olhares abismados à sua volta. — EU. — ele iniciou alto e pausadamente, e assim prosseguiu. — AMO. A. WINRY.

Cada palavra havia sido pronunciada com muita tranquilidade, clareza e, acima de tudo, segurança, quase como se Edward degustasse do doce e refrescante prazer de poder senti-las escaparem por sua boca.

— Satisfeitos? — ele tentou sustentar sua postura firme e triunfante por mais algum tempo, mas sua voz vacilante denunciou o quão aturdido estava naquele momento.

Quase sem ar, se viu na obrigação de desviar o rosto em direção oposta às pessoas, numa tentativa aflita de encobrir o forte rubor que permeava em suas bochechas.

De que adiantava esconder seus sentimentos? Se já era de conhecimento de todos, pra que omitir? Havia amadurecido nos anos em que esteve fora e era capaz de reconhecer o forte sentimento que nutria pela moça, embora fosse um tanto desconcertante de dizê-lo em voz alta.

Um silêncio tumular se instaurou após tamanha declaração, fazendo Edward olhar para frente e ver o porquê de toda aquela quietude dramática. Já havia sido constrangedor demais falar de seus sentimentos, e não estava pronto para receber tantos olhares de surpresa em sua direção.

— Que foi?! — ele perguntou, um tanto bruto.

— É só que a gente nunca imaginou que você teria a coragem de confessar em público… — Roy retrucou com franqueza, ainda um pouco abobalhado. — Você realmente amadureceu, Edward Elric.

O de cabelos longos admirou-se ao ouvir tais palavras serem ditas pelo alquimista das chamas. Por se tratar de quem se tratava, sabia serem verdadeiras. Roy dificilmente se dava ao trabalho de elogiá-lo, por conta de toda a rivalidade existente entre ambos, de modo que só reforçava ainda mais o quão surpreendido havia ficado.

Constatando que todos ali presentes, incluindo até mesmo seu irmão, compartilhavam da mesma expressão que Mustang, o rapaz encolheu ante à própria vergonha, dando margem para novas gracinhas.

Hummmmmm… — foi o som que, segundos depois, todos, em coletivo, fizeram. 

 🔧同等以上の交換

Após alguns minutos as infinitas piadas a respeito da vida amorosa de Edward chegaram ao fim. O tempo que reservaram para rever os irmãos havia terminado.

Seus amigos do exército foram os primeiros a se despedir, alegando que precisavam voltar para a Central. Roy, no entanto, disse que marcaria algum dia da semana para que todos eles os visitassem devidamente e relembrassem os bons tempos. Não perdeu a oportunidade de também desafiar o Elric mais velho para uma partida de xadrez, alegando que o faria perder vergonhosamente quando se reencontrassem. Edward, que “detestava” esse tipo de coisa, nem mesmo exitou em apertar a mão enluvada de Roy e a revidar a provocação com faíscas nos olhos, afirmando ousadamente que Riza teria que lidar com o vergonhoso fardo de namorar um perdedor.

E em meio a tal pacífica despedida, Mustang e alguns militares se foram em seu carro, enquanto outro grupo se foi no veículo conduzido por Maria. Logo depois Izumi e Sig também se despediram, embora os irmãos tivessem sugerido a eles para que os acompanhassem até em casa e ficassem por lá alguns dias, ela persistiu que, como uma responsável dona de casa, precisava cuidar de suas obrigações domésticas. Estava para nascer uma mulher que se orgulhasse mais do próprio ofício do que Izumi.

Depois de se despedirem dos moradores locais, Pinako, Alphonse e ele se puseram a caminhar.

A verdade era que Edward não havia esperado por tamanha hospitalidade. Imaginara que Pinako estaria os aguardando sozinha com a neta, mas, diferentemente do que pensara, havia muito mais pessoas à sua espera, exceto aquela a quem ele tinha certeza plena de que estaria ali. Não que de algum modo tivesse ficado triste com a situação. Ele havia adorado rever seus amigos de tal maneira, que durante aquele tempo todo nem havia se detido em pensar no porquê de Winry não estar ali.

Até aquele momento.

Caminhando em direção à casa de Pinako, Edward divagava a respeito do porquê da moça não estar ali naquele instante. Chegara até mesmo a ser assombrado com a possibilidade dela ter se cansado de esperar por ele, mediante o fato de que havia demorado em sua viagem.

Tal hipótese o havia deixado inquieto. Precisava perguntar a Pinako, ainda que sentisse que um abismo havia se formado entre ambos. Só conseguia congelar de medo e vergonha ao se recordar que declarara o amor que sentia por sua neta na frente dela.

— Ei, Pinako, onde está a Winry? — Edward inquiriu sério. — Eu imaginei que ela viria com você… 

Havia reunido todos os fragmentos de coragem que ainda possuía ao fazer tal questionamento. Estava verdadeiramente interessado quanto ao que ela lhe responderia a seguir.

— Tá tudo bem com ela, vovó? — Alphonse indagou.

— Ela saiu na semana passada. — a anciã respondeu. — Foi pra Rush Valley de novo. Quis ver se tinha chegado alguma novidade sobre mecânica de automails. Ela nem mesmo sabia que vocês viriam pra cá, já que a carta de vocês chegou algumas horas depois dela ter saído. — esclareceu.

Saber daquilo fez com que Edward sentisse algum alívio. Ela não estava doente e nem evitando-o ou punindo pelo tempo que passara longe, como havia pensado. Caso fosse aquilo não saberia ao certo como ela reagiria quando o visse cara a cara, e nem ao menos como ele lidaria com toda a situação.

— E quando ela volta? — Alphonse adiantou-se em perguntar.

— Provavelmente daqui a uma semana. Não sei ao certo. Winry tem muitas amizades por lá e geralmente se hospeda na casa deles.

Aquela notícia o havia deixado cabisbaixo. Claro que ela tinha o direito de sair e viver a vida dela assim como ele e seu irmão fizeram — por um tempo considerável, diga-se de passagem —, todavia, sentia tanta falta sua, que até mesmo aqueles poucos dias iriam torturá-lo.

Ele arfou, resignado. Pelo visto o reencontro deles iria demorar um pouco mais para acontecer.

Havia ficado tão entretido com seus pensamentos, que quando menos percebeu, já haviam chegado em seu destino.

Com uma brisa agradável soprando em sua face e fios de cabelo, Edward apreciava o pitoresco ambiente em sua volta. Já podia ver a modesta casa de cor amarela a alguns metros de distância, em meio a toda aquela vasta extensão de campos verdes, e sua visão trouxe consigo um sentimentalismo acolhedor, fazendo-o percorrer a sinuosa trilha com um sutil sorriso.

Ao chegarem em casa, Edward e Alphonse foram recepcionados por Den que, logo que sentiu seus cheiros ao longe, já havia se posicionado de pé e dado vários pulinhos e latidos felizes, fazendo os irmãos agacharem-se no chão lado a lado para corresponderem à altura de todo aquele amor.

— Ei garota, também sentimos saudades. — Edward fez carinho em sua cabeça, gesto esse que foi correspondido de bom grado pela cadelinha, que abanou o rabo animadamente e apoiou a pata mecânica acima de seu joelho protético, como se tivesse ciência das semelhanças que haviam entre ambos. 

 🔧同等以上の交換

Já haviam se passado algumas horas desde sua chegada. Edward e Alphonse haviam desfeito sua bagagem e se acomodado na casa de Pinako tal como se fosse sua própria moradia. Bem, de fato a consideravam daquele jeito. Viveram por anos debaixo daquele teto e eram felizes estando ali. Possuíam uma dívida de gratidão enorme para com a anciã, reconhecendo o quão generosa ela havia sido para com eles quando os permitiu morar consigo e sua neta.

Sentado de maneira relaxada frente à mesa da sala, Edward revisava algumas de suas incontáveis anotações a respeito de física mecânica e bioquímica. Papéis e livros didáticos estavam postos desorganizadamente sobre toda a superfície da madeira, e ele, com um lápis na mão, detinha-se em resolver alguns cálculos de alta complexidade.

Resolver desafios matemáticos era sua terapia e seu modo de escapar do tédio rotineiro, mediante ao fato de que seu irmão e Pinako estavam até então ocupados na cozinha e ele não era muito habilidoso nessa área. Poderia ficar estudando por horas a fio, sem se cansar. Era um alquimista, afinal de contas, ainda que não pudesse mais usar alquimia, seus conhecimentos e habilidades ainda permaneciam consigo, impulsionando-o a seguir em frente e a conhecer mais sobre as maravilhas do mundo ao seu redor.

Completamente imerso em seu raciocínio, perdeu o foco abruptamente ao ouvir baterem na porta. 

— Edward, abra a porta. Seu irmão e eu estamos ocupados. — Pinako gritou de dentro da cozinha.

Desinteressado, o rapaz levantou da cadeira e foi em direção à porta sem pressa. No entanto, segundos antes de finalmente abri-la, uma conhecida voz feminina foi ouvida por ele, fazendo-o parar por breves segundos o que estava prestes a fazer e engolir em seco. A mão pairando a centímetros de distância da maçaneta; estática. 

Céus, era ela! Tinha certeza.

Com um frio agradável permeando em seu estômago ele a abriu, deparando-se exatamente com a pessoa que sabia que encontraria. Diante dele, a loira remexia desleixadamente dentro da bolsa que segurava, à procura de algo que ele supôs se tratar de uma chave.

— Vovó, ainda bem que você abriu, — ela falou aliviada, ainda sem desviar o olhar do fundo da tiracolo. — acredita que eu es-

E foi naquele momento em que Winry ergueu a face e direcionou o olhar para a pessoa em sua frente, fazendo a frase que articulava morrer no meio do caminho.

Aqueles segundos eram torturantes. Faziam a frieza em seu interior aumentar. Os olhos dela estavam arregalados e o analisavam demoradamente, quase como se não conseguisse acreditar no que estavam vendo.

— Ed… é você? — ela precisou questionar, pois ainda estava abobalhada em vê-lo ali.

Perante aquela indagação, ele se viu na obrigação de fazer sua habitual pose com os punhos fechados na cintura e dar um largo sorriso, de modo que seus olhos se encolheram de maneira adorável.

— Em carne e osso. — assentiu o rapaz.

Sem que pudesse processar direito toda a situação, por estar de olhos fechados, tudo o que sentiu foi o impulso que Winry deu ao jogar-se em cima dele e o abraçar com força, fazendo-o desequilibrar-se e cair no chão com ela debruçada acima de seu corpo.

Havia ficado imóvel, quase sem respirar por conta daquela reação por parte da moça. Diante dele os expressivos olhos de Winry enchiam-se de lágrimas, assemelhando-se ao mais lindo oceano azul, capaz de hipnotizá-lo e roubar-lhe todo o ar.

— Edward, é você mesmo! — aquela reação eufórica por parte dela o fez gargalhar alto. — Não acredito! Quando chegou? Estava caído sobre um tapete no chão com a mulher agarrada em seu peito. Sentia o calor dela bem como os fortes batimentos de seu coração. Era tão bom que não se importaria de passar o dia inteiro com ela daquele jeito; enlaçada a si.

— Eu e o Al chegamos há umas seis horas. — respondeu altivo.

— O Al também tá aqui? Cadê ele? — ergueu o rosto, procurando-o com os olhos.

— Estou bem aqui!

Alphonse saiu de dentro da cozinha. Usava um avental culinário e enxugava as mãos com algum pano de prato, que fez questão de jogar sobre a mesa da sala ao ver Winry correndo em sua direção para abraçá-lo.

— Al! — Gritou enérgica ao chegar até ele e então o abraçar com toda a sua força. O rapaz ria alegre enquanto sentia a cabeça da mesma tocar-lhe o ombro.

— Winry! — O maior respondeu, envolvendo cuidadosamente a fina cintura da moça e girando-a no ar como um irmão brincando com a irmãzinha.

Já de pé, Edward analisava sorridente toda aquela cena. Sentia-se de volta aos velhos tempos em que os três eram os melhores e inseparáveis amigos que brincavam juntos pelos pastos, riachos e montes verdejantes de Resembool.

— Eu senti tanta falta de vocês… — ela mal conseguia conter as lágrimas ao falar.

— Nós também sentimos bastante falta sua, Winry. — Alphonse respondeu afetuoso, ainda agarrado a ela. — Principalmente o Nii-san, que não deixava de falar o seu nome uma noite sequer enquanto dormia.

O rapaz riu ao revelar o segredo de seu irmão. Não poderia perder uma oportunidade de ouro como aquela.

— ALPHONSE! — replicou Edward, ultrajado demais para dizer mais algo além daquilo.

Sem se abalar com a explícita cara de descontentamento e aflição que seu irmão lhe direcionava, o rapaz prosseguiu:

— Ele até mesmo decidiu voltar pra cá antes do previsto por sua causa.

Surpreendida, Winry virou-se e olhou em direção ao mais velho, cuja face estava tão vermelha quanto o tapete de lã abaixo de seus pés.

— Isso é verdade, Ed? — a moça mal conseguia conter o próprio sorriso.

— Bem… Eu já havia visto coisas demais… — coçou a nuca, nitidamente desconfortável com toda aquela situação. — E o Al também queria voltar. — tentou amenizar as palavras de seu irmão.

— Não tanto quanto você, Nii-san.

Alphonse riu ao terminar a frase, fazendo o de cabelos longos ficar mais acanhado e vermelho do que já estava. Estava sendo uma diversão incrível ver os surtos de Edward, não podia negar, ainda que tudo que dissera se tratasse da mais pura verdade. No final, tudo o que queria era aproximar Winry e seu irmão, embora ele soubesse que aqueles dois não necessitavam de sua ajuda para se entenderem.

Para Edward era oficial: Naquele dia Alphonse havia decidido o punir pelas vezes em que ele se divertiu expondo os seus segredos mais íntimos para May. Teria sorte se seu rancoroso irmão não citasse os desenhos que havia feito da mecânica ou o ocorrido de pouco horas, quando gritara aos quatro ventos o seu amor avassalador pela moça.

— Winry, você voltou mais cedo do que havia dito. — Pinako interrompeu a conversa ao entrar na sala com uma concha culinária em mãos, fazendo o loiro mais velho arfar com alívio.

— Não encontrei nada muito interessante dessa vez, vó. — Winry explicou. — Decidi então voltar mais cedo pra cá. E pelo visto tomei a decisão correta. — ela virou o rosto para trás, olhando em direção aos dois rapazes com nítido afeto.

— Vá tomar um banho e troque de roupa. A janta ficará pronta logo. — a anciã decretou.

— Tá certo, já vou. 

Pinako então retornou seus afazeres na cozinha.

Winry seguiu em direção à escadaria e, antes de subi-la, virou o rosto mais uma vez em direção aos irmãos, como se quisesse confirmar que eles ainda estavam ali. Um sorriso carregado de ternura foi exibido por ela, segundos antes de dar-lhes as costas e subir rapidamente os degraus, deslizando a mão pelo corrimão, rumo ao seu quarto.

— A Winry ficou ainda mais bonita nesses dois anos. — Alphonse comentou e Edward assentiu levemente com a cabeça, sem querer tirar os olhos da moça.

Compartilhava e muito da opinião de Alphonse, exceto que, para ele, bonita fosse um adjetivo fraco demais para designar o que a mulher era aos seus olhos. Ela não era bonita. Era linda. Deslumbrante. Sempre havia sido. E naqueles anos em que passaram longe, tudo o que nela já era atraente, ficara ainda mais.

— É bom fechar a boca, antes que comece a babar. — o mais novo aconselhou em tom zombeteiro, dando as costas a seu contrariado irmão e indo novamente à cozinha.

— Ei! — ele protestou ante tamanho atrevimento, mas ao constatar estar só, prontamente suavizou a expressão, dando lugar a um sorriso completamente bobo e apaixonado. 

 🔧同等以上の交換

Estando ele concentrado em seu papel de pôr a mesa para o jantar, mal notara o som de passos oriundo da escadaria.

— Belo vestido, Winry. — Alphonse a elogiou assim que entrou na sala e pôs os olhos nela. Segurava em mãos uma grande caçarola de alumínio recém-saída do fogo, prestes a colocá-la na mesa.

Só então Edward se deu conta dela. Virou primeiro a cabeça e ergueu o olhar, em seguida o corpo.

De súbito, embeveceu.

A jovem descia os degraus trajando um delicado vestido de alças azul claro de algodão, que ia até dois palmos acima dos joelhos. Era simples, mas ainda assim encantador. Moldava com graça os seios fartos e a cintura fina, além de revelar suas belas pernas.

Céus, era tão linda que o deixava sem fôlego... e não só por seu voluptuoso corpo, que ficava ressaltado pelo vestido; nem pelo majestoso cabelo solto cujas mechas recaíam acima de seus seios; nem por seu encantador rosto, semioculto pela sombra. Não era somente por sua aparência e seu físico, mas sim porque se tratava dela. Winry.

— Obrigada, Al. — ela sorriu ao finalmente pisar no térreo, enrubescendo ao constatar o olhar tolo de Edward pairando sobre si.

Aos olhos dele, ela estava mais do que adorável.

— Winry, chegou bem na hora. — Pinako falou ao entrar na sala com um pano de prato em mãos. — Já vamos servir a janta.

Depois disso, sentaram-se os três na mesa de jantar, enquanto a anciã em pé servia a sopa em cada prato. Edward tomou lugar ao lado de seu irmão, de modo que, para sua sorte, Winry ficou do outro lado da mesa, posicionada em frente a ele.


Naquela noite desfrutaram de boas conversas e risadas a respeito do dia, e da calorosa recepção que tiveram. Alphonse falou sobre sua ida a Xing e seu reencontro com a princesa May, ressaltando como o relacionamento deles havia evoluído desde então. Falou também sobre Ling; o atual imperador de Xing, que governava com benevolência e justiça sua nação, ao lado de sua inseparável guarda-costas Lan Fan, que assegurava seu bem-estar. Falou também sobre as numerosas cidades do leste que conheceu, no período em que viajou sozinho, assim como os países do oriente em que pisara os pés.

Antes de viajarem Edward e Alphonse haviam decidido se separar, de modo que cada um adquirisse independência e fosse capaz de amadurecer, para que no futuro, quando se reencontrassem, seus conhecimentos pudessem ser somados. E assim fizeram: por dois anos desbravaram-se de forma independente pelo mundo afora, em busca de ver a sua grandeza. E de fato a viram! Não em toda a sua totalidade e esplendor, mas uma pequena parte dela. E assim, depois de dois anos e quatro meses de viagem, ambos se reencontraram nas terras de Xing e compartilharam de seus achados. Permanecendo juntos por aproximadamente um mês, até voltarem à sua cidade natal.

Suas aventuras nem mesmo estavam perto de chegar ao fim. Muito ainda precisava ser visto por ambos. Mas, por pelo menos alguns meses, ficariam em Resembool, a fim de matar as saudades de todos que ali viviam.

Tendo Alphonse parado de falar, Edward deu início a sua história, detendo-se, a princípio, em narrar sua odisséia e feitos pelas cidades do oeste. Em seguida, expôs parte de sua jornada pelos países ocidentais em que peregrinou.

—… e por lá existem montanhas imensas, com campos de coleta de sal em seu topo, o que é simplesmente absurdo, considerando toda a altitude. — Edward citava uma de suas viagens com muita empolgação. Os olhos vibrantes; fascinados. — Mesmo não havendo nenhum oceano nas proximidades, a comunidade local afirma que num passado distante, um gigantesco mar recobria a região. Se é uma lenda ou não, não sei dizer, mas o fato é que há sal e é ele que contribui com toda a renda e sustento deles, juntamente com as plantações de arroz que percorrem a aldeia…

E ele prosseguia contando cada vez mais entusiasmado suas aventuras, recebendo toda a atenção dos ali presentes. Principalmente de um par de olhos azuis, que faiscavam enquanto o observavam. 

—… Enquanto Finn e Emily distraíam os guardas com o auxílio da Gräfin, Diane e Levi me guiaram sorrateiramente por um alçapão, que dava acesso a um longo e escuro túnel subterrâneo, situado logo abaixo da zona palaciana. Com uma candeia em mãos descemos infinitas escadarias em ziguezague, até chegarmos na parte mais profunda da passagem, em que o menor dos ruídos era capaz de fazer o mais alto eco. Lá havia incontáveis prateleiras com livros e artigos milenares, falando sobre tudo o que se possa imaginar… — um sorriso ardente dançava em sua boca.

E assim permaneceu a falar, por quase uma hora, vez ou outra, sendo interrompido por pertinentes questionamentos a respeito do assunto abordado. Contou sobre a vez em que fez amizade com um almirante, que o permitiu entrar em seu submarino e viajar com ele e sua equipe por um raio de aproximadamente 1km de profundidade no mar, próximo à zona abissal, em que pôde ver uma diversidade incrível de peixes e animais exóticos aos quais nunca imaginara um dia presenciar. Também narrou a vez em que conheceu o Ducado do Sol Nascente, onde pôde vivenciar a experiência de voar num balão de ar quente e ver um dos mais lindos nasceres do sol de sua vida. 

 🔧同等以上の交換

Ali, em frente à porta do quarto de Winry, Edward estagnou. Toda a quietude ao seu redor, só contribuia ainda mais para todo aquele drama. Mordeu o lábio inferior, apertando a pequena caixinha entre seus dedos, num conflito interno se deveria entregá-la naquele momento, ou se deveria simplesmente dar meia volta e dá-la pela manhã seguinte — a segunda opção sendo, até então, a mais tentadora.

Receoso, lembrou-se de minutos atrás, quando ainda jantavam. Seu irmão e ele trouxeram consigo de viagem, um pequeno baú repleto de belas ferramentas banhadas a ouro, que adquiriram por uma bagatela em uma de suas andanças pelo mundo. Haviam feito uma boa escolha ao comprá-las; As Rockbells haviam gostado. Era um presente útil e que seria muito bem usado por ambas.

Tal memória imediatamente o fez recordar do sorriso fascinado de Winry ao pegar uma chave inglesa dourada de dentro daquele baú. Era engraçado ver o quão apaixonada era pelo mundo da mecânica — embora também fosse amedrontante quando recordava o quão perigosas chaves inglesas podiam se tornar em suas mãos. Podia jurar que até mesmo via corações em lugar de seus olhos enquanto a mesma detinha-se em segurar o tão amado presente.

E ele arfou, ainda mais incerto quanto ao que fazer.

Por muitos anos enxergara Winry como uma garota simples de agradar, capaz de sorrir e se alegrar com facilidade — embora, assim como ele, também fosse bastante geniosa. Sabia que sua essência não mudara. Contudo, ainda que compreendesse aquilo, havia uma parcela de si que, de forma ilógica e contraditória a tudo que sabia, temia pela possibilidade de uma rejeição.

Era infantil demais se preocupar com aquele tipo de coisa? Se preocupar por ela não gostar de seu presente tanto quanto o anterior?

Um som oriundo do quarto atraiu sua atenção. Virou a cabeça e olhou. Já podia ver a silhueta feminina projetada pela fresta da porta, e sua visão não acalmou em nada o revôo que sentia no estômago. Eram borboletas que teimosamente dançavam em seu interior e faziam-no desejar se encolher.

Droga! Deveria ou não bater na porta?

No fim, ele fechou os olhos e suspirou profundamente, à procura de calma. Sim, precisava relaxar. Segundos depois, decidido, tomou coragem e bateu.

Quem é? — a voz feminina ecoou como uma melodia, por trás da porta.

— Sou eu. — respondeu ele, ajeitando a postura e escondendo por trás das costas a caixinha que segurava em mãos.

Ah, espera um pouco, Ed. Já vou.

Em instantes a porta do quarto foi aberta, e Edward se sentiu agraciado pelo suave aroma floral que saía de dentro do cômodo e percorria por seu nariz, quase revigorando-o de toda a tensão que sentia.

— O que foi, Ed? — a dona da encantadora fragrância questionou, surgindo por trás da porta.

Estava do exato modo em que se apresentara para jantar, e só de vê-la ali, tão linda e tão próxima de si, soube que fez bem em decidir entregar-lhe aquilo em tal momento.

Os grandes cosmos azuis pairavam sobre ele, curiosos quanto ao porquê dele estar ali.

— Será que eu posso entrar? — perguntou, sem jeito. — Eu queria te entregar algo… — apertou os lábios.

Winry piscou, desentendida e sutilmente corada, embora feliz. Já estava tarde e aquilo a fazia questionar o que de tão importante ele tinha para lhe entregar.

— Ah, claro, Ed! — respondeu solícita, encobrindo o próprio constrangimento. — Pode entrar!! — esboçou um sorriso caloroso, ao que deu espaço para que ele adentrasse.

Edward mordeu o lábio inferior quando ouviu a porta atrás de si ser fechada. Já havia estado a sós com ela inúmeras vezes em seu quarto, mas naquela ocasião o contexto era outro completamente diferente. Não eram mais duas crianças, mas sim adultos; homem e mulher, em toda sua essência.

Percorreu discretamente os olhos pelo local. Este que permanecia incólume; idêntico ao que era desde a última vez em que estivera ali. Nostálgico quanto às recordações que tinha dali, lembrava-se dos incontáveis momentos em que ele, depois de ter despertado a raiva mortífera da loira por conta de algum comentário estúpido, engolia o próprio orgulho — e medo — e pedia-lhe desculpas. No fim, a maioria delas se resumia a ele reconhecendo os próprios erros e pedindo perdão. Havia apenas uma memória bastante específica, que destoava completamente das outras.

E Edward corou violentamente. A sedutora e irresistível memória que tinha de Winry prestes a se despir, enquanto ele despretensiosamente degustava um sanduíche em seu quarto, era tão vívida que o fazia arrepiar quando, logo em seguida, se lembrava da bofetada que levou antes de ser expulso dali voando. Na época nem mesmo ele sabia o porquê de ter eleito justamente aquele lugar para comer, só sabia que aquele ocorrido — e tabefe — havia sido um dos mais… memoráveis… — e dolorosos! — que tiveram ali.

— O que é que você quer me dar? — A moça posicionou-se frente a ele, alarmando-o ao ver o sorriso delicado que curvava sua boca; completamente inocente quanto ao fato de que ele pensava em algo tão lascivo.

— Ah! — ele prontamente trouxe as mãos para frente, revelando a caixinha de madeira em direção à moça. — Eu comprei isso pra você. — declarou, mascarando o próprio medo.

Por favor, que ela goste!

— Hmmm, o que é? — ela inquiriu em tom brincalhão, pegando com expectativa o pequeno embrulho e o destampando sem demora.

O loiro a analisava em silêncio, não querendo ignorar nenhuma de suas reações.

De imediato ela sorriu, e aquela sem dúvidas era a melhor expressão da parte dela que poderia receber. Em suas mãos segurava com apreço o delicado par de brincos, alargando o sorriso ao levantar o rosto e ir de encontro aos olhos do rapaz em sua frente.

— Obrigada, Ed! São lindos. — declarou, completamente maravilhada. — Eu adorei!! 

Ao ouvir aquilo, sentiu qualquer resquício de angústia que ainda possuía, ir embora. Estava leve como uma pluma.

— Eu… só vi alguém os vendendo na rua e decidi comprar. Achei que combinavam com você… — revelou, tímido, fazendo a garota em sua frente rir anasalado.

— Vou colocá-los agora mesmo. — disse ela, imediatamente caminhando rumo ao espelho que jazia anexado à parede em frente.

Diante ao próprio reflexo, a jovem habilidosamente colocou os adornos, que consistiam em pequenos e delicados pingentes em formato de gota, feitos à base de cristal de murano mesclado em tons de azul e esmeraldino.

— O que achou? — ela perguntou ao se virar, sorrindo ao exibi-los.

— Ficaram ótimos em você. — respondeu.

Você é linda, então é óbvio que ficaria bem em você, foi o que pensou em dizer.

— É, ficaram mesmo. — ela concordou alegre, virando-se novamente em direção ao espelho. — Você continua o mesmo, Ed. — confidenciou afável, sorrindo meiga.

Edward sorriu ao ouvir aquilo. De fato, algumas coisas nunca mudavam.

Naquele momento sentiu-se afortunado com as lembranças deles ainda crianças, quando uma jovem Winry, encorajada por ver uma militar tão linda e feminina quanto Riza, decidiu colocar brincos, assim como a mulher. Naquela época, ao saberem de sua decisão, os Elric resolveram juntar suas economias e lhe presentear com brincos. No final os indecisos garotos compraram tantos pares, que o resultado não foi outro, senão vários furos em cada orelha da garota. Ela havia lhes dito que gostara tanto, que se viu na obrigação de usar todas as argolas ao mesmo tempo.

E o sorriso radiante dela ao usá-las era o melhor prêmio que podiam receber. 

— Ainda falta te entregar mais algo. — ele murmurou com a voz arrastada, aproximando-se calmamente em direção à moça.

O discreto rangido metálico, oriundo do automail em sua perna, foi o único som que se fez presente ali, antes de posicionar-se em frente a garota e retirar o punho fechado de dentro do bolso da calça. 
— Estava inseguro se deveria te entregar. — confidenciou, estendendo uma corrente de ouro branco que despencou magicamente aos olhos dela. — A sua alegria quando viu os brincos foi o que me fez decidir. — sorriu.

A estratégia que desenvolvera era simples. Como temia que Winry não gostasse do colar, decidiu entregar primeiro os brincos de vidro. A lógica era que se um simples adorno a fizesse sorrir, então muito provavelmente uma joia verdadeira iria agradá-la ainda mais.

Pelo menos era o que acreditava… Winry nada falava, e a espera por uma reação era terrível!

— Ed… — ela sorriu, ao que lhe pareceu uma eternidade, os olhos brilhando.

Havia ficado tão tocada que mal sabia o que dizer. Tudo o que enxergava era a delicada corrente prateada que sustentava um pingente de água-marinha. Céus, quando que Edward havia se tornado tão amável, romântico e…. rico?

Bem, ela teria tempo de sobra para perguntar depois de onde havia arranjado dinheiro pra comprar algo assim. No momento estava feliz demais para falar qualquer coisa.

Vendo aquela reação, Edward fez uma nota mental para não esquecer de, no futuro, agradecer a Gräfin pela joia dada.

— Posso colocar em você? — disse após segundos de quietude, e comemorou internamente por não ter gaguejado, mesmo que sentisse o rosto esquentar cada vez mais.

Winry balançou a cabeça.

Dada a permissão, em total silêncio, Edward posicionou o colar na frente do pescoço de Winry, tomando em seguida, a liberdade de segurar os longos fios de ouro e os tirar da frente, revelando a nuca cujos ralos e curtos fios de cabelo graciosamente recaiam pelo pescoço. Ele prendeu a respiração, até finalmente prender o fecho do colar.

Havia terminado e já podia se afastar. Entretanto, não conseguia. Não conseguia parar de observar a suavidade das curvas do pescoço feminino, ressaltados pela sombra, nem a delicadeza dos ombros nus, nem a beleza das costas, reveladas pelo vestido de alças, e nem… a perfeição dela, como um todo.

Enfeitiçado pela atraente visão que tinha, não pôde evitar o ímpeto de fechar os olhos e aproximar o nariz rente à nuca de Winry, inalando a inebriante fragrância que dali provinha, e consequentemente fazendo seus lábios roçarem aquela região acetinada, como um suave beijo. 

Ela era tão irresistível…

Winry, no entanto, engoliu em seco e enrijeceu ante o próprio reflexo espelhado, que revelava o homem atrás de si, inspirando rente ao seu pescoço. Completamente arrepiada e vermelha de constrangimento, precisou fechar os olhos e reprimir o ar em seu interior. Seu coração estava tão rápido que temeu que ele pudesse ouvi-lo.

— O seu cheiro é tão bom…— sussurrou em seu ouvido, quente e sedutor, fazendo Winry suspirar.
Pouco depois Edward afastou-se, calmo, e teve o vislumbre de vê-la, através do espelho, abrir os olhos, corada até a ponta do nariz.

Ele havia recobrado os sentidos, e mesmo que estivesse encabulado e descrente quanto ao que fizera, nem de longe se sentia arrependido. Era estranho como tudo aquilo lhe parecia tão certo, quando se tratava dela.

A verdade era que amava aquela mulher como um louco. Sonhava com ela e até mesmo contou os dias para revê-la. Ainda não sabia direito como lidar com tudo aquilo — que por muito tempo considerou brega. O amor era mais complexo do que cálculos de física quântica, aos quais ele ao menos compreendia e sabia o que fazer.

Queria abraçá-la, beijá-la, confessar o seu amor.

Contudo ele nunca fora um homem delicado, por assim dizer. Diferente de seu irmão mais novo, seus hábitos em público costumavam ser um tanto quanto estúpidos, e sua polidez para com as mulheres deixava a desejar. Isso, no entanto, não significava que não almejasse melhorar ou que não tentasse ser um cavalheiro à medida do possível. A verdade era que se tratando de relacionamentos amorosos, sua experiência era zero. Nunca sequer beijara uma mulher. Quem dirá então fazer uma confissão de amor! — O vexame público de horas atrás não podia ser levado em conta.

Céus, como era inexperiente nessa área…

O mais próximo que fizera de uma declaração, foi uma improvisada — e bastante original, inclusive! — analogia entre as normas alquímicas e o compromisso ao qual desejava firmar entre eles dois. Não era lá muito romântico e o fez parecer um idiota viciado em alquimia, mas ao menos foi o que lhe viabilizou a exposição de seu sentimento, bem como a confirmação de que ela também o queria.



“Troca equivalente? Você é idiota? Metade nada! Eu vou te dar tudo.” A frase disparada por ela não demorou a surgir em seus pensamentos, fazendo-o sorrir ao relembrá-la.

Sim, Winry tinha razão. A troca equivalente não fazia sentido, porque no final das contas, não queria dá-la apenas parte de sua vida! Queria entregar-lhe tudo, de corpo e alma.

E Winry sentia o próprio rosto em chamas. A ansiedade cozinhava em fogo baixo, dentro de seu estômago. Todo o seu corpo havia enrijecido e, ao que parecia, havia desaprendido a falar. Com a imagem de Edward a encarando tão intensamente, ficava difícil se virar. Ele era tão bonito que por muitas vezes a deixou sem fôlego. Principalmente quando sorria daquele jeito, emoldurado pelos longos cabelos cor de ouro, com alguns fios caindo acima da testa. Era tão magnético! Fazia seu coração palpitar tão desenfreadamente sem precisar de grandes esforços. Desde a adolescência, compreendeu que estava apaixonada por ele, um garoto baixinho, incrivelmente teimoso, sincero e obstinado, que um dia jurou-lhe que quando a fizesse chorar, seria de emoção. E ele honrou com sua palavra! Naquele dia estava tão feliz em tê-lo ali consigo, que tudo lhe pareceu mais belo e colorido ao redor. Se conseguisse se mexer, pularia novamente em seus braços e o abraçaria fortemente, com todo o seu amor.

E eles olhavam um ao outro através do espelho, em meio a um diálogo silencioso que durou por alguns segundos.

Edward sorriu afetuosamente para Winry, os olhos apaixonados. Ela o correspondeu de igual maneira, enquanto ele tratava de repousar as mãos suavemente nas laterais de sua cintura, e percorrê-las em volta de sua barriga; abraçando-na de forma acolhedora. As mãos de Winry ficaram sobre as dele, sentindo o calor que elas lhe transmitiam, no tempo em que Edward apoiava o queixo acima de seu ombro.

Naquele momento já não havia mais inseguranças e medos. Tudo o que havia era uma sincera troca de olhares e sorrisos, que compartilhavam a reciprocidade de um forte e antigo sentimento.

Com um brilho nos olhos úmidos, e com a voz tão serena quanto a brisa noturna provinda da janela, Edward disse:

Eu amo você, Winry. — e ao terminar de sorrir, prontamente curvou-se de encontro à bochecha rosada, fechando os olhos e depositando um beijo terno no local.

Winry emocionou-se perante àquela demonstração de amor. Nunca havia sido beijada por ele, e constatar que naquele instante a boca dele repousava em sua bochecha a fez sorrir.

E-Eu também amo você, Edward. — ela tartamudeou quando o mais velho afastou a boca, tomando coragem de virar-se em direção a ele e encarar as orbes ambarinas. — Amo demais.

Os olhos cerúlios lacrimejavam diante dele e, naquele momento, Edward sentiu um calor imensurável. Era tão bom e aquecedor, que fazia-o sorrir.

Com o polegar, acarinhou o rosto de Winry, admirando-a como a mais bela e valiosa relíquia. Lentamente inclinou-se de encontro a ela, e quando a viu fechar os olhos em expectativa, segurou-lhe o queixo fino e a beijou; gentil, sem pressa, os lábios mornos.

Winry estremeceu sob a boca dele, mas o correspondeu quando sentiu os lábios dele abrirem. Completamente instintiva, envolveu os braços por seu pescoço e acompanhou o ritmo calmo que a língua dele ditava em sua boca, ao passo em que ele segurava-lhe a cintura em direção a si.

O ósculo iniciara tal como o primeiro vôo de um pássaro, mas tornou-se delicado e solene à medida em que ganhavam experiência. Era o primeiro beijo de ambos, e logo aprenderam como conduzi-lo. Como demonstrarem o amor que sentiam um pelo outro. 



E naquela noite de verão, encostados no batente da janela do quarto, Edward e Winry observaram juntos a paisagem de Resembool, a qual era preenchida pelo encantador brilho dos vaga-lumes. Seus corações bateram em sincronia enquanto eles, abraçados um ao outro, conversaram sobre a vida e riram com as memórias de anos atrás, vez ou outra trocando farpas e provocações astuciosas — as quais mais pareceram uma troca de afeto — com relação àquela época.

Ainda que mais tarde a Velha Bruxa tivesse cortado o clima e batido na porta, convidando Edward a se retirar, argumentando que era nova demais para se tornar bisavó, — comentário ao qual fez o jovem casal se retesar — o loiro sentira que, pela primeira vez, depois de todos aqueles meses, estava onde queria estar; com quem desejava estar.

E… Bem, tempo para ficarem juntos era algo que, sem dúvidas, não iria faltar.

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