19/07/2022

Sob os Cuidados de Nine

Eu escrevi essa oneshot enquanto ainda estava acompanhando BOTV. A obra ainda não havia chegado ao fim e eu necessitava escrever algo com esses dois. Eu tinha contraído uma gripe chata e estava acamada, num daqueles dias chuvosos e escuros, e decidi me entreter desse jeito. Não tenho tanta certeza se os personagens da obra original agiriam do exato modo que os fiz agir aqui. De qualquer forma, foi muito divertido escrever sobre esses lindinhos hahaha~
Despejei todo o amor que eu sinto pelo Nine. Sério, como ele consegue ser tão lindo?
Enfimmmmm, boa leitura <3
“Beijinho da Cura”
Beware of the Villainess (그 악녀를 조심하세요)
[Oneshot]

Aquele era um daqueles típicos dias em que tudo o que restava para Melissa Podebrat era fotossintetizar em seu quarto enquanto observava entediada/dolorida/entupida-de-catarro o teto e se questionava — de uma maneira um tanto grotesca, estúpida e dramática — o sentido da própria existência. O colchão e o travesseiro quase que fundindo-se a si ao passo em que sua mente viajava de zero a mil. A face anteriormente pálida, agora ruborizada pela febre. O corpo inteiro trêmulo e recoberto por um lençol.

O rosto exibia uma expressão bizarra demais para ser descrita, enquanto fungava deploravelmente com uma pequena toalha acima de sua testa.

— Yonaaa, tô entediada pra cacete… — disse sofrivelmente à empregada, cuja atenção estava voltada única e exclusivamente para as roupas que dobrava pacientemente sobre a cama.

— Eu vejo, senhorita — respondeu com sua típica indiferença, sem sequer a olhar de volta.

Melissa fungou e virou o rosto em direção à janela, amaldiçoando a chuva pesada que caía incessantemente no lado de fora e a fazia se recordar da própria estupidez.

Já faziam exatos cinco dias que não parava de chover, e para ela, uma garota tão cheia de energia quanto uma Duracell, aquilo era quase uma tortura medieval.

Bem, sendo justa ela reconhecia que nas primeiras 48h fizera um proveito excelentíssimo de todos os privilégios proporcionados por aquele infeliz cataclisma. Dormiu como uma rainha — o que, convenhamos, não estava muito longe de ser. Todavia, tudo nessa vida em algum momento cansa, e não foi diferente com relação às férias que impusera a si mesma. No terceiro dia, sentiu que a fantasia convertera-se num pesadelo, e que iria enlouquecer se ousasse ficar mais um minuto dentro de casa. Às escondidas — sabendo que não teria a aprovação de ninguém — tivera a brilhante ideia de praticar suas habilidades de espada na chuva, já que não era permitido treinar dentro de casa.

E o trágico desfecho para a sua inconsequência foi nada mais, nada menos, do que uma pneumonia.

Se arrependimento matasse…

Melissa fez uma careta enquanto fungava com força toda a secreção que insistia em escorrer por seu nariz. Ainda se lembrava da bronca e dos sermões que recebera de Nine quando ele a avistou do lado de fora. O modo como a repreendeu, fê-la se sentir como uma criança. A princípio ficara abusada com tamanho cuidado, afinal era uma mulher adulta e responsável — ela se achava, pelo menos, muito mais do que Jake e seu próprio pai. Contudo, para sua imensa vergonha/humilhação, o universo conspirou contra si e decidiu castigá-la por suas ações ainda naquela noite, quando começou a tossir, corizar e ter febre, ao ponto de precisar ficar convalescendo como um cadáver na cama.

“Olha, eu já vi muitas pessoas burras no mundo, mas você se superou”, lembrava-se amargamente das palavras que seu adorável irmão mais novo disse assim que a visitou no quarto naquele dia.

— Tsc, aquele maldito! — ela resmungou enquanto fechava os punhos e xingava mentalmente a si.

Se havia uma coisa no mundo que Melissa odiava era impotência. O sentimento de estar sujeita às ordens ou aos cuidados de alguém, frustrava-lhe. Desde cedo aprendera a se virar sozinha e a resolver os próprios problemas. Gostava daquela independência e autonomia que tinha sobre as próprias ações. O fato de que naquele momento mal conseguia se erguer da própria cama, desencadeava-lhe uma espécie de culpa por saber que graças a sua irresponsabilidade, estava dando um trabalho a mais aos seus empregados.

Certamente ninguém estava verdadeiramente zangado consigo. Melissa, mais do que ninguém, sabia o quão estimada e amada era por todos à sua volta. Yuri, por exemplo, quando ficara sabendo de seu debilitado estado de saúde, ficou desesperada e se prontificou a ir para a mansão no mesmo instante para cuidar dela e curá-la com sua magia; aquele desejo, todavia, não pôde se concretizar pois infelizmente o temporal estava intenso demais para que se arriscasse ao sair de casa — apesar de tudo, o estado de Melissa não era preocupante o suficiente para que tomasse uma medida tão extrema. Até mesmo Jake mostrou-se preocupado — ao modo dele, obviamente. Os dois aqui citados estavam entre as tantas pessoas que Melissa sabia que se importavam consigo.

E quando parou para pensar naquilo, sentiu-se incrivelmente feliz e sortuda por ter ganho aquela vida e ter conhecido pessoas tão incríveis.

O belo rosto de Nine não tardou em surgir em sua mente e dominar os seus pensamentos. A imagem dele sempre estava associada com coisas adoráveis porque era isso que ele era: Adorável. Sempre tão terno e cuidadoso, buscando ajudá-la sempre que possível. Tão fiel quanto só ele era capaz de ser. Dono de um sorriso tão meigo e aquecedor quanto o sol da manhã.

Metaforicamente falando, seu peito não estava preenchido por secreção e catarro; mas sim por flores e borboletas. O sentimento que tinha por Nine causava-lhe aquilo.

Sem que percebesse, Melissa adormeceu sorrindo, sonhando estar abraçada a Nine. Yona, que monitorava seu estado de saúde, discretamente saiu do quarto e fechou a porta, deixando-a sozinha em seu sono.

— Durma bem, senhorita. 

  

A violenta tempestade que caía no lado de fora, tornava difícil distinguir o dia da noite. Tudo estava escuro, mas era apenas um pouco mais do que 18h quando a porta do quarto foi aberta.

O ambiente, antes dominado pela escuridão, foi preenchido por uma centelha de luz. Logo em seguida, Nine adentrou o espaço segurando uma pequena bandeja em mãos.

Tentando fazer o máximo de silêncio possível, o jovem lobo aproximou-se da garota adormecida sobre a cama. Pôs a bandeja sobre a cômoda ao lado e cuidadosamente sentou-se no colchão.

Com preocupação estampada em seus olhos, vagarosamente estendeu a palma da mão sobre a têmpora de Melissa, temeroso de que sua temperatura pudesse ter aumentado. Para seu imenso alívio, foi o oposto. Ela estava afebril.

Ele suspirou mais calmo.

— Ainda bem — pôs a mão no peito, sentindo-se incrivelmente mais leve.

Para Nine a saúde e bem estar de Melissa sempre estariam em primeiro lugar. Dedicava sua vida inteiramente a ela. Por ela. Estar com ela fazia-o feliz.

— Ah, Melissa, por que você sempre me deixa tão cheio de preocupação? — disse ele, acarinhando de leve o delicado rosto adormecido. — Eu sou tão bobo. Sei que você não é indefesa e que é incrivelmente mais forte do que eu, mas sempre fico temeroso de que algum mal possa te acometer — ele deu uma risadinha, as costas dos dedos gentilmente percorrendo sua bochecha.

Melissa acordou sentindo aquela singela demonstração de afeto. Estranhamente, sentia que ainda sonhava.

— Me perdoe por ser assim, tão indigno de você. Sei que meus sentimentos não te alcançam, mas não tem problema. Meu amor é simples, e nunca fiz questão de que você me correspondesse. Só o fato de estar com você todos os dias e te ver sorrir já é o suficiente pra mim — ele sorriu com candura. — Obrigado por existir, senhorita Melissa.

Ele inclinou-se e depositou um beijo casto acima de sua testa.

Melissa então abriu os olhos, sentindo o calor retornar ao seu rosto. Estava completamente rubra; desta vez, não mais pela febre. Seu coração palpitava tão alto que certamente Nine seria capaz de ouvir.

Dito e feito.

— S-Senhorita Melissa! — o rapaz disse atarantado ao dar de cara com os vibrantes olhos com de âmbar. — Há quanto tempo está acordada?

O desespero e constrangimento estavam explícitos em seu rosto.

— Só a uns segundos — ela respondeu em estado não muito diferente do dele. — Senti seu toque e acabei despertando.

— P-Perdão pela ousadia, senhorita Melissa. Vim aqui para checar sua temperatura e te dar de comer.

Ele apontou em direção a bandeja na qual jaziam um prato de sopa e um pequeno comprimido lacrado. 

— Sim, sim, claro. Não precisa pedir desculpas, Nine.

Ela ergueu as costas, tentando sentar.

— Me permita ajudá-la.

Com habilidade, posicionou-a ereta com o apoio dos travesseiros.

— Obrigada, Nine.

Ele então pôs a pequena mesa com o prato de sopa fumegante em cima da cama. Nas mãos de Melissa, entregou um copo dʼágua e o comprimido.

— Por favor, coma tudo. A senhorita precisa ficar forte para combater esses vírus horrorosos.

Melissa riu do modo como ele expressava sua preocupação e jogou o remédio no fim da garganta, engolindo-o com o auxílio da água.

— Obrigada — disse ao devolver-lhe o copo.

Melissa então pegou a colher e serviu-se do ensopado que lhe haviam preparado. Amava canja, mas era triste estar sem paladar. Comer perdia a emoção e limitava-se a uma simples ação cuja finalidade era mantê-la nutrida.

— Algum problema, senhorita Melissa? — o azulado perguntou ao notar a clara frustração no rosto da morena.

— Não, Nine, nenhum — ela forçou um sorriso. — É só que eu gostaria de estar sentindo o sabor da comida — fungou. — Mas essa maldita secreção não deixa.

Embora tivesse tentado soar engraçada, era óbvio que estava verdadeiramente frustrada.

Nine abaixou ligeiramente as orelhas. Infelizmente nada podia dizer para consolá-la. Ficar gripado era uma porcaria e estava longe de sua capacidade fazê-la melhorar instantaneamente.

— Eu sinto muito — disse com uma cara triste. Os olhos lacrimosos. — Se eu pudesse, ficaria no lugar da senhorita.

Melissa sentiu o coração se aquecer. Naqueles momentos Nine parecia uma chibi de cachorrinho adorável.

— Sei disso, Nine. Obrigada.

Ela esboçou um sorriso doce.

Nine seria capaz de dar o mundo por ela. Da mesma forma, ela também seria capaz de fazer o mesmo por ele. Desde que resgatara-o das ruas, Melissa desenvolvera um vínculo tão forte com ele, que já não conseguiria mais viver sem. Ter devolvido a ele a capacidade de falar, foi um dos marcos dos quais mais se orgulhava. Presenciar aqueles olhos cor de turmalina brilharem como estrelas, enquanto seus lábios trêmulos revelavam pela primeira vez sua doce e acalorada voz, foi como receber um presente.

Melissa sentiu o coração quentinho. Não era uma mulher muito sentimental, era verdade, mas isso não significava que era alheia aos aspectos românticos da vida. Compreendia que o que sentia por seu mordomo transcedia os limites de uma simples amizade.

Ela… amava Nine.

Naquele momento, uma imagem passou pela mente de Melissa. Foi um vislumbre de apenas alguns segundos, mas foi o suficiente para deixá-la completamente rubra.

— Oh não, acho que a senhorita está ficando febril de novo! — Nine disse preocupado, prestes a correr dali em busca de um termômetro.

— Nine, espera — ela segurou-o pelo pulso, os olhos aflitos. — Eu…estou bem. Só… eu estava pensando… você poderia fazer algo por mim?

— Mas é claro — disse imediatamente. — Estou à sua completa disposição.

Melissa engoliu em seco, o coração martelando contra as costelas. Era agora ou nunca.

— Poderia me dar um… beijo? — a frase gradativamente foi abaixando, até chegar ao ponto de soar baixo até mesmo para Nine, portador de uma excelente audição.

— Perdão, acho que não ouvi — falou inocente.

— Um beijo — soara tão baixo quanto da primeira vez.

— Me desculpe, senhorita Melissa, por favor, fale só um pouco mais alto.

Ele se aproximou ainda mais. Os olhos cor-de-rosa bem abertos, fazendo com que Melissa reparasse em todos os seus detalhes e se questionasse como um homem podia ser tão lindo.

— Droga! Sou péssima com esse tipo de coisa! — Melissa gritou.

Ela estava prestes a chorar de vergonha e puxar os próprios cabelos. Por que aquele tipo de coisa era tão difícil? Embora fosse inexperiente no quesito romance — o seu brevíssimo relacionamento com Ian sequer deveria ser citado —, sempre fora uma mulher de iniciativa. Por que estava exitanto tanto? Era valente e determinada. Não fazia qualquer sentido toda aquela insegurança.

A mulher então respirou fundo e, sem perder mais nenhum segundo pensando, tomou coragem, puxou Nine pela gola da camiseta, fechou os olhos e deu um beijo em seus lábios.

O rapaz foi pego completamente de surpresa. Nunca imaginara que receberia um beijo de Melissa. Os lábios pressionados aos seus eram quentinhos e macios, e aquele mero contato fez seu coração acelerar e o corpo inteiro se esquentar.

Ambos sentiram-se nas nuvens.

O ato durara apenas alguns segundos, e assim que a garota se afastou e abriu os olhos, foi revelado que estava tão rosada quanto ele.

— Eu… li há uns anos atrás uma história que dizia que beijos eram capazes de trazer a cura pra doenças — ela desviou os olhos, coçando a bochecha com a ponta do indicador.

Melissa então respirou fundo, ao que voltou a encarar o rapaz com determinação.

— Acho que essa é uma das desculpas mais infantis e ridículas que eu já dei.

— Senhorita Melissa-

— Nine, eu gosto de você. Gosto pra burro. O que eu sinto por você é algo que jamais senti por ninguém. Quando eu estou com você eu me sinto muito feliz. Vai soar brega, eu sei, mas você me faz enxergar a vida em rosa. Eu te beijei porque eu gosto de você. Porque quis demonstrar o quão grata me sinto por ter você.

Ela havia falado tudo aquilo com grande seriedade, tentando demonstrar em frases o que de fato sentia. Aquele uso de palavras era inusitado até mesmo para si.

— É isso — concluiu ela, o rosto prestes a explodir de vergonha. — Não quero que você fique desconfortável comigo nem nada do tipo! — apressou-se em dizer. — Se estrapolei os limites, por favor finja que nada aconteceu e que nós-

A mulher não conseguiu concluir a frase, pois seus lábios haviam sido cobertos pela boca de Nine.

Um beijo respeitoso e rápido, mas que ainda assim, carregava uma enorme carga emocional.

— Eu também te amo, Melissa. Desde a primeira vez em que a vi — sorriu angelical, acarinhando o rosto da morena. — A senhorita é o meu tudo. É quem me devolveu a alegria de viver. Por você eu decidi entregar minha existência. Obrigado, por tudo.

A voz dele era puro mel.

Melissa então sentiu o corpo inteiro se amolecer, como se de algum modo estivesse derretendo. Estava quente até a ponta do nariz. Não era uma sensação ruim, era bem bom, na verdade.

Ela mordeu o lábio inferior, tentando reprimir um pouco toda aquela euforia; não conseguiu.

— Então…

— Então…

O clima pedia por um segundo beijo.

Nine e Melissa aproximaram os rostos cada vez mais. Quando já estavam de olhos fechados e com os lábios a centímetros de distância, a porta foi aberta.

Os dois se viraram, assustados, vendo um Jake de olhar arregalado gradativamente se tornar enojado e aborrecido.

— Yuri acabou de chegar. Se querem fazer sacanagens, ao menos tranquem a porta.

— ORA SEU!

Quando Melissa estava prestes a arremessar um travesseiro em direção a Jake, uma loira invadiu o quarto a todo vapor.

— MELISSAAAAAAAAA! EU ESTAVA TÃO PREOCUPADA!

Yuri foi correndo até Melissa, jogando-se em seus braços.

— Ei, ei, eu tô legal — Melissa disse enquanto a consolava em meio ao abraço.

Yuri então desabafou sua fúria, metralhando inúmeras repreensões a respeito do quão louca e irresponsável Melissa era por ter feito o que fez. No final, abraçou a amiga novamente e garantiu que iria curá-la.

Ainda que Nine não gostasse de Yuri por conta de toda a rivalidade que possuíam, ele sorriu ao contemplar a cena.

Discretamente ele deixou o recinto e deixou as duas a sós. Depois daquela confissão mútua ele sabia que segundos, terceiros, quartos e tantos outros beijos ainda viriam a acontecer.

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